A natureza altamente invasiva da violência sexual tem o poder de promover sentimento de culpa e vergonha na vítima e alterações na regulação emocional. As vítimas tem grande potencial para o desenvolvimento do TEPT (Transtorno de Estresse Pós-traumático) evidenciado por meio de dificuldades comportamentais (impulsividade, agressividade, acting out sexual, uso abusivo de álcool/drogas e ações autodestrutivas), dificuldades emocionais (labilidade afetiva), problemas cognitivos (como tendência à dissociação e alterações patológicas na identidade pessoal), dificuldades interpessoais e somatização.
O trauma causado por abuso sexual na infância pode gerar disfunções sexuais nas mulheres. Essas disfunções são conhecidas como Transtornos da dor sexual genitopélvica/penetração (vaginismo e dispareunia), Transtorno do interesse/excitação sexual feminino, Transtorno do orgasmo feminino (anorgasmia). A ninfomania (compulsão por sexo) e a prostituição podem surgir como resultado das possíveis consequências do abuso sexual. São formas de se desprezar o parceiro e também uma autodestruição. Mulheres relatam sentir repulsa do sexo oposto, visto como cruel e agressivo por elas.
Sabe-se que o abuso sexual e/ou emocional na infância aumenta a chance para transtorno voyeurista, transtorno exibicionista e transtorno pedofílico. As teorias psicossociais, reforçam que a parafilia deriva de condicionamentos infantis, de maneira que uma criança molestada pode tornar-se um adulto receptor de abuso ou abusador.
Todas essas disfunções e parafilias se instalam na vida de mulheres que não conseguiram integrar a experiência abusiva mesmo depois de anos de sua ocorrência, justamente por terem sido severamente espancadas ou maltratadas no incidente, que sofreram ameaças de morte e de punição por parte de figuras de autoridades (genitores/agressores), que perderam o afeto do agressor.
Toda essa experiência traumática tem repercussão ao longo da vida da vítima e se apresentam de diversas formas, tais como: busca por relações que sejam inocentes, espiritualizadas e sem sexo; sintomas expressos pelo corpo que responde pelas angústias, fantasias, sentimentos inconscientes e todo tipo de sofrimento físico que dificulta a vida sexual, o prazer no sexo; reprodução do que se experenciou, ou seja, passa de abusado a abusador, confirmando a transgeracionalidade do abuso ( terapias de casal e família são ideais para quebrar o ciclo deste triste legado); ansiedade e depressão são fatores que fazem a vida parecer não ter solução e tudo toma uma proporção muito maior que o real, resultando em possíveis fobias, ataques de pânico e a um processo de negação paradoxal de autopreservação versos autodestruição movido por um alto grau de nulidade; grande confusão interna expressa pela instabilidade emocional e prática, dificuldades na vida profissional, falta de confiança nas outras pessoas, momentos de agressividade e delírios paranoides; por fim, a influência do trauma na escolha do cônjuge desta vítima, que faz sua escolha pautada em suas vivências e na sua resolução de conflitos inconscientes voltados ao abuso.