Vírus foi responsável por afastar a população de clínicas e hospitais, o que levou à redução de exames anatomopatológicos, especialmente biópsias para indicar o tratamento mais adequado de tumores
Até o mês de junho de 2022, a Covid-19 já fez mais de 667 mil vítimas no Brasil. Além das mortes, indiretamente a pandemia causou muitos danos à saúde da população em geral, que por conta do lockdown e medo de contrair o vírus, deixou de realizar exames preventivos.
A sobrecarga no atendimento de hospitais e o cancelamento de cirurgias também impactaram na realização de exames anatomopatológicos, causando prejuízos aos pacientes oncológicos com relação às taxas de cura e sobrevida.
Segundo a Sociedade Brasileira de Patologia (SBP), somente em 2021 pelo menos 50 mil casos de câncer de mama deixaram de ser detectados no Brasil, em razão do adiamento de exames de rastreamento, como a mamografia. E mesmo entre as mulheres que obtiveram o diagnóstico a tempo, 12% preferiu por conta própria adiar o tratamento, impactando as chances de cura.
Menor taxa de biópsias
No caso das biópsias, dados da revista do SUS Epidemiologia e Serviços de Saúde, indicam que ainda em março de 2020 os números da realização desse exame no Brasil começaram a cair. Em comparação com o mesmo período em 2019, a redução foi de 17,1%. Os meses seguintes, abril e maio, também foram de queda, com quase 70% de biópsias a menos feitas no País.
Dados do impacto
Estudos internacionais mostram uma queda de 20% nos diagnósticos de câncer na França em 2021, em relação ao mesmo período antes da pandemia. Entre os pacientes que foram diagnosticados, em 80% foram encontrados tumores em estágio já avançado. Em 64% dos casos, o paciente já apresentava comprometimento linfonodal (metástase).
O estudo ainda indica o aumento nos casos de câncer de mama que foram detectados sintomáticos, ou seja, a partir da palpação de nódulos, quando o ideal seria o diagnóstico precoce, obtido por meio do exame de mamografia e da biópsia.
O levantamento também concluiu que houve aumento significativo de casos de câncer colorretal diagnosticados em centros de emergência, quando a paciente já apresenta quadro de obstrução intestinal. A realização do exame de rastreamento teria evitado o agravamento da doença.
Conclusão
Todo esse panorama, que também é uma realidade para o Brasil, mostra que os efeitos negativos da pandemias quando o assunto é câncer vão perdurar pelos próximos cinco anos, de acordo com especialistas. Isso porque muitas pessoas vão demandar tratamentos mais complexos pela falta de diagnósticos precoces.
A pandemia foi um dos acontecimentos mais desafiadores e terríveis deste século. Mas é preciso seguir em frente, já que hoje existem ''armas'' como informação confiável, vacinas e novos medicamentos. A saúde em geral e doenças graves como o câncer não podem ser deixados de lado.