Uma paciente tem a conhecida artrose na coluna. Não tem indicação de cirurgia ainda, e começa a fazer tratamento com fisioterapia, usa várias medicações para dor crônica e se submete a uma infiltração para alívio da dor e tratamento. As dores melhoram, mas retornam após algum tempo, com melhora parcial no tratamento. A melhora da dor após essa infiltração significa que a paciente teve um bloqueio teste positivo. Isso quer dizer que podemos partir para a segunda etapa que é a radiofrequência dessas estruturas na coluna, um procedimento utilizado para “queimar” a inervação que transmite essa dor e assim prolongar o seu alívio. Então a paciente pergunta: “Mas doutora, esse procedimento é um paliativo né? Não vai tratar a causa...”
A dor lombar é a causa mais frequente de dor no mundo, e a maior responsável por faltas ao trabalho. A dor crônica é a dor que persiste por mais de 3 meses. No caso acima, a artrose na coluna não surgiu da noite para o dia, como um trauma. Houve uma degeneração progressiva com o passar dos anos. Quando a doença é arrastada, os resultados do tratamento também levam algum tempo para aparecer. Mas o fato é que quando a causa não pode ser tratada ou quando não descobrimos a causa da dor (sim, isso também acontece), nos resta tratar a dor crônica, pois ela é uma doença em si mesma. Doença esta que causa vários prejuízos emocionais e sociais a quem tem. Exemplo interessante: estudos com pacientes com câncer mostram que aqueles que tem controle da dor têm maiores taxas de sobrevida em geral.
Uma das primeiras coisas que a dor “rouba” de uma pessoa é sua vida social. Perde-se a disposição para sair de casa. A dor prejudica o desempenho no trabalho, nas atividades de casa, e o paciente deixa de fazer atividade física. Os familiares começam a se incomodar em conviver com uma pessoa que está sempre reclamando de dor e aí começa a cobrança e as mentiras. É mais fácil dizer que não está com dor do que ser acusada de não querer resolver a situação. E o sofrimento cresce como uma bola de neve. Se o paciente não consegue executar as funções de cônjuge, pai, trabalhador, amigo e etc., a sua identidade fica ameaçada. E a dor vai tomando conta de uma parte cada vez maior na vida de quem a tem. Com essas preocupações vêm os distúrbios de humor como a ansiedade e a depressão.
Portanto, tratar a dor é importante para que ela não tome conta da vida daqueles que a têm. O tratamento multidisciplinar trata mais de um fator que contribui para a dor do paciente, como por exemplo a parte muscular, a artrose, o sofrimento emocional, o sedentarismo... mas é a atitude do paciente como protagonista do seu tratamento que vai fazer a diferença no fim das contas.