Já é bem sabido que a obesidade, principalmente o aumento da gordura abdominal, está associada a um maior risco de diabetes, colesterol elevado, hipertensão arterial e doenças cardiovasculares como infarto e AVC. Contudo, os sistemas reprodutivos feminino e masculino também podem ser prejudicados com o excesso do peso. Enquanto nos homens manifesta-se principalmente com a redução dos níveis de testosterona total (hipogonadismo secundário) e consequente diminuição da libido, nas mulheres aumenta a ocorrência da síndrome dos ovários policísticos (SOP) com irregularidade menstrual e infertilidade.
O hipogonadismo masculino secundário à obesidade apresenta um decréscimo funcional da amplitude do pulso e dos níveis do LH. Nas mulheres com SOP já ocorre o processo inverso em relação ao LH e uma síntese alterada de FSH, afetando o desenvolvimento normal dos folículos ovarianos e a ovulação. Em ambos os sexos a resistência à ação da insulina decorrente do excesso de gordura abdominal inibe a produção pelo fígado da globulina ligadora dos hormônios sexuais (SHBG).
Diante deste cenário, o processo de emagrecimento faz parte do tratamento destas condições, buscando-se como uma meta de perda de peso inicial de 5 a 10% com uma tendência a regularizar as menstruações e o aumento nos níveis de testosterona total proporcionalmente à redução ponderal. Inclusive reforça-se as orientações de anticoncepção após pelo menos 6 meses a 1 ano da cirurgia bariátrica, a qual permite perda considerável de peso, para que a gestação ocorra com mais segurança após melhor cicatrização e adaptação do organismo a este novo estado metabólico e hormonal. No entanto, pode ser necessária a reposição hormonal e tratamentos mais específicos para fertilidade conforme cada caso.
Por outro lado, deve-se atentar sobre a interrupção de medicamentos usados no tratamento da obesidade quando se descobre a gravidez e durante a lactação conforme orientação médica. E é neste momento que se deve reforçar as medidas comportamentais para a manutenção do peso perdido por meio de alimentação balanceada e atividades físicas.
Em razão de toda esta complexidade das influências em vários aspectos do metabolismo corporal, o tratamento da obesidade deve envolver uma equipe multidisciplinar com endocrinologista, ginecologista, urologista, psicóloga, nutricionista, entre outros profissionais.