Doutora, meu filho tem anemia?
Antigamente, bastava puxar as pálpebras para baixo ou observar a coloração da língua e da pele da criança para acalmar o coração dos familiares aflitos. Hoje em dia, á luz de novos conhecimentos, precisamos sim de exames de laboratório, mesmo em crianças coradas.
Em 2018, a Sociedade Brasileira de Pediatria lançou um consenso orientando os pediatras brasileiros no diagnóstico e tratamento de anemia ferropriva e considerou a anemia mais que uma doença e sim uma urgência médica, saiba o porquê.
Entendendo a anemia e seus efeitos
Consideramos anemia quando a concentração sanguínea de hemoglobina (uma proteína presente no interior dos glóbulos vermelhos) se encontra abaixo dos valores esperados pré estabelecidos para idade e sexo. Pode ter várias causas, mas a principal é a deficiência de ferro em mais de 60% dos casos em todo o mundo.
O ferro é o metal mais presente no corpo humano e participa de diversas funções, tais quais síntese de proteínas, sistema respiratório e imunidade.
No caso de crianças esta depleção pode afetar o desenvolvimento de habilidades cognitivas, comportamentais, em relação a linguagem e capacidades motoras e este impacto negativo permanece mesmo após o tratamento.
Estudos mostram que crianças com deficiência de ferro já partem de patamares inferiores de capacidade cognitiva quando comparadas ao grupo sem deficiência. O tratamento ocasiona melhora, mas não nos mesmos valores que o grupo saudável.
Elas também podem ter maior chance de cáries dentárias, alterações na imunidade, no paladar, apetite e no desenvolvimento da visão e audição.
Durante a gestação, pode favorecer prematuridade, baixo peso ao nascer e aumento da mortalidade.
Quanto mais precoce, intensa e prolongada a depleção de ferro, maiores as possibilidades de ocorrência dessas alterações.
Como saber se meu filho tem anemia?
Se seu filho estiver pálido, apático, cansado, irritado ou com o coração batendo mais rápido que o normal, a anemia- e seus efeitos tão deletérios- já está instalada há algum tempo.
O ferro diminui primeiramente seus depósitos no corpo humano, que são no fígado, baço e medula óssea. Para avaliar estes estoques precisamos da dosagem da ferritina sérica.
No segundo estágio já temos uma deficiência de ferro que pode ser avaliada pela própria redução do ferro sérico ou de suas proteínas de transporte.
Já a anemia- aquela vista no famoso hemograma- é o estágio final da deficiência de ferro.
No Brasil, a orientação é iniciar a complementação de ferro para prevenção de anemia nos bebês a termo com 3 meses de vida e fazê-la até os 2 anos. Recomenda-se também a solicitação de exames laboratoriais com 1 ano de vida da criança.
Por todos estes motivos, pais e pediatras devem estar unidos para a prevenção, diagnóstico e tratamento precoce da anemia ferropriva.
Mesmo preocupados com a pandemia de covid 19, não podemos esquecer de doenças antigas, ainda mais as tratáveis. Vamos prevenir juntos essa urgência médica? Contem com nós, profissionais da área da saúde.