A pré-eclâmpsia (PE) é doença multissistêmico que afeta tipicamente 2% a 5% das gestações em todo o mundo e é uma das principais causas de morbimortalidade materna e perinatal, principalmente quando a condição é de início precoce. A nível mundial a mortalidade anual é de 76.000 mulheres e 500.000 bebês.
Embora o entendimento completo da patogênese da PE permanece incerto, a teoria atual sugere processo em duas etapas. O primeiro estágio é causado pela invasão superficial do trofoblasto, resultando em remodelação inadequada das artérias espirais. Presume-se que isso leve ao segundo estágio, que envolve a resposta materna à disfunção endotelial e ao desequilíbrio entre fatores angiogênicos e antiangiogênicos, resultando nas características clínicas do distúrbio.
A busca de prever efetivamente a PE no primeiro trimestre da gravidez é alimentada pelo desejo de se identificar mulheres com alto risco para tal doença, de modo que as medidas necessárias possam ser iniciadas o suficiente para melhorar a placentação e, assim, prevenir ou pelo menos reduzir a frequência dessa ocorrência. Além disso, a identificação de um grupo em risco permitirá que a vigilância pré-natal personalizada preveja e reconheça o início da síndrome clínica e a realize o seu manejo prontamente.
O rastreio de pré-eclâmpsia precoce e grave (34 semanas) no primeiro trimestre tem melhorado a performance nos últimos anos passando de 47%, quando se utiliza apenas os fatores de risco da história clínica materna, para 90% quando se associa a medida da pressão arterial média, a Dopplervelocimetria da artéria uterina e o fator de crescimento placentário. Mesmo que não se disponha do fator placentário a detecção é considerada significativa, em torno de 80%.
Quando se utiliza aspirina na dose de 150 mg/dia pode-se realizar a prevenção da pré-eclâmpsia precoce (32 semanas) em 90% dos casos e pré-eclampsia pré-termo em 60% dos casos.
A economia que se obtém com esse rastreio também foi bem documentada através de estudos de custo, destacando-se um realizado pelo no Canadá através da implementação do programa de rastreio no primeiro para PE e intervenção precoce com aspirina em mulheres identificadas como de alto risco para PE o qual demonstrou potencial de prevenir um número significativo de casos de PE de início precoce com redução no custo para o sistema de saúde de forma substancial de um gasto de $23.910.467,06 com a prática de rastreio antiga para $9.523.485,26 com o rastreio combinado segundo Orteved et al (2018).
A Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO) adota e apoia a Fundação de Medicina Fetal na posição de que todas as mulheres grávidas devem ser rastreadas quanto a pré-eclâmpsia pré-termo pelo teste combinado do primeiro trimestre com fatores de risco maternos, pressão arterial média, índice de pulsatilidade das artérias uterinas e fator de crescimento da placenta como etapa inicial. O cálculo de risco está disponível gratuitamente em https://fetalmedicine.org/research/assess/preeclampsia
A FIGO adota e apoia a posição da Fetal Medicine Foundation nas mulheres de alto risco, definidas pelo teste combinado no primeiro trimestre de administrar aspirina 150 mg à noite devendo ser iniciada no período de 11-14 + 6 semanas de gestação e mantida até 36 semanas de gestação, quando ocorre o parto ou quando a pré-eclâmpsia é diagnosticada.
A FIGO (Federação internacional de Ginecologia e Obstetrícia) incentiva todos os países e suas associações membros a adaptar e promover estratégias para melhorar o acesso aos serviços de pré-natal e incentivar consultas precoces.
Por fim, a FIGO, corroborada pela The International Society of Ultrasound in Obstetrics & Gynecology (ISUOG) e International Society for the Study of Hypertension in Pregnancy (ISSHP) incentiva todos os países e suas associações membros a garantir que a avaliação de riscos e testes apropriados para pré-eclâmpsia precoce se torne parte integrante de protocolo de avaliação do primeiro trimestre oferecido em todos os serviços de saúde materna.