A seletividade alimentar é caracterizada por recusa alimentar, pouco apetite e desinteresse pelo alimento. É um comportamento típico da fase pré–escolar, mas, quando presente em ambientes familiares desfavoráveis, pode acentuar-se e permanecer até a adolescência. A recusa alimentar é um comportamento típico da primeira infância, caracterizado por comportamentos como: fazer birras, demorar a comer, tentar negociar o alimento que será consumido, levantar da mesa durante a refeição e beliscar ao longo do dia. Esse tipo de comportamento resulta em uma limitação das atividades sociais relacionada á alimentação.
Há relatos da associação entre duração reduzida do aleitamento materno e introdução precoce da alimentação suplementar com o desenvolvimento da seletividade alimentar na infância, mais conhecido como picky eating. De acordo com a literatura, a amamentação poderia facilitar a aceitação de novos alimentos, visto que as características sensoriais do leite materno são influenciadas pela dieta da mãe e permite o primeiro contato da criança com sabores e odores variados. Esse contato possibilitaria a melhora da aceitação de novos alimentos quando oferecidos incialmente. Shim et al. encontraram que a combinação entre aleitamento materno exclusivo por seis meses e introdução da alimentação suplementar após essa idade reduz as chances de a criança desenvolver comportamento alimentar seletivo na fase de dois a três anos.
Caton et al, sugerem que, quanto mais precoce é a exposição a novos alimentos, melhor a aceitação, desde que no momento apropriado. Ë interessante ressaltar a relação encontrada entre o uso da chupeta por mais de um ano e a ocorrência de deficiência alimentar, tendo em vista que alguns estudos relacionam o seu uso com desmame precoce e com alteração sensitiva e motora oral. O uso prolongado de chupeta levaria à alteração maxilar com mordida aberta, sendo fator de risco para desenvolvimento de distúrbios alimentares em crianças.
A família e os cuidadores são fundamentais para formação e a estruturação dos hábitos e condutas alimentares da crianças. Também são responsáveis por promover o ambiente das primeiras experiências alimentares que podem ser decisivas para aceitação de novos alimentos. Se um ambiente é agradável e novos alimentos são oferecidos sem coação, a criança fica muito mais suscetível a desenvolver preferência por eles. Algumas crianças mostram-se ansiosas diante de alimentos com molho ou que são fáceis para se sujar, comportamento que pode estar associado a mães obsessivas por limpeza ou que não permite ao filho usar as mãos pra alimentar-se. Sabe-se que a desestruturação familiar pode influenciar a seletividade alimentar em crianças, sendo importante a conscientização do problema vivenciado, de forma a impor limites, sem, contudo, perder o controle. Importante ressaltar de que os pais devem ponderar suas atitudes e ambos devem participar ativamente no processo de educação alimentar. A ansiedade dos familiares para ver a criança comer leva à substituição de alimentos saudáveis por aqueles de baixo valor nutritivo, os quais normalmente fazem parte das preferências dos seletivos. Assim o consumo excessivo de produtos industrializados, como embutidos, presumidamente com alto teor de sódio e açúcar, nos primeiros dois anos de vida é alarmante. Ë de suma importância evitar esses alimentos para formação de hábitos alimentares saudáveis e, consequentemente, prevenção contra enfermidades futuras, tais como hipertensão, dislipidemias, síndrome metabólica, diabetes melito e até mesmo alguns tipo de câncer.
Concluindo, é necessário focar na educação dos pais e das crianças no sentido de se promover hábitos saudáveis de alimentação evitando as consequências de carências nutricionais e possibilitando o crescimento e o desenvolvimento adequado.