A endometriose é uma doença que acomete mulheres em idade fértil, caracterizada pela presença de endométrio (tecido que reverte a parte interna do útero) fora do útero, podendo implantar em outras partes do corpo como peritônio, intestino, bexiga, ovários, trompas e até em outros locais, mais raramente, como no tórax.
A endometriose atinge 5 a 15% das mulheres no período reprodutivo, diminuindo após menopausa. Estima-se que o número de mulheres com endometriose seja de sete milhões nos EUA e de mais de 70 milhões no mundo. Segundo a Agência Nacional de Saude (ANVISA), cerca de 10% das mulheres brasileiras são acometidas por esta doença.
Listamos abaixo algumas perguntas comuns feitas por pacientes no consultórios:
1- Quais são os principais sintomas da endometriose? O principal sintoma é a dor na pelve (parte mais baixa do abdome). Principalmente no período menstrual. O tecido endometrial mesmo estando fora do útero sofre influência dos hormônios femininos e assim como o tecido do interior do útero sangra e inflama, o mesmo ocorre com os implantes de endometriose exacerbando a dor. Outros sintomas como dor durante a relação sexual, dor ao defecar, e outros sintomas relacionados a invasão dos órgãos abdominais podem estar presentes.
2- Quais os fatores de risco de adquirir ou piorar a endometriose e seus sintomas?
Como a endometriose é uma doença estrogênio-dependente, imagina-se que em condições que aumentem a exposição a este hormônio, possa se observar um maior risco de aparecimento desta enfermidade. Assim, pode ser mais prevalente em mulheres com menarca (primeira menstruação) precoce, gestações tardias e grande diferença de tempo entre menarca a primeira gravidez, exatamente como ocorre em boa parte na vida das mulheres modernas. Práticas saudáveis com dieta equilibrada (anti-inflamatória) e atividade física regular podem contribuir no controle da dor e melhora na qualidade de vida das pacientes com endometriose.
3- Por que as pacientes com endometriose devem ser operadas? São dois os principais motivos para o cirurgião e/ou ginecologista indicar a cirurgia para endometriose: dor e infertilidade. Além disso, pode se indicar a cirurgia para casos com invasão da bexiga ou ureter (canal que leva a urina do rim à bexiga), obstrução do intestino, dentre outros. O objetivo da cirurgia é basicamente proporcionar melhora da qualidade de vida e restauração da fertilidade.
4- Qual o melhor método cirúrgico para operar pacientes com endometriose? Atualmente a melhor via de acesso para realizar essas cirurgias são os métodos minimamente invasivos (videolaparoscopia ou cirurgia robótica) que geram menor resposta inflamatória, diminui tempo de internação e de recuperação, e tem melhor resultado estético quando comparados à laparotomia (cirurgia aberta). Atualmente se utiliza pinças de energia especiais que são mais precisas que o bisturi convencional, dissipam menos calor diminuindo riscos de lesão dos órgãos e tecidos.
5- Quais os tipos de cirurgias indicados para o tratamento da endometriose?
São basicamente dois tipos: a cirurgia conservadora e a cirurgia definitiva.
A cirurgia conservadora é indicada para mulheres que pretendem engravidar. Geralmente se realiza excisão de tecidos de endomentriose, fulguração dos implantes, ressecção dos endometriomas (coleção achocolatada geralmente presente nos ovários), lise de aderências especialmente nas trompas, visando a preservação dos ovários, trompas e úteros para manutenção da fertilidade. Neste tipo de cirurgia o retorno da doença é mais comum.
A cirurgia definitiva ou radical é aquela que se realiza em mulheres que não querem ter filhos. Geralmente quando os sintomas persistem após a cirurgia conservadora, ou doença mais grave com piora na qualidade de vida principalmente devido a dor. Geralmente se realiza retirada dos órgãos reprodutivos (útero, trompas e até os ovários) e a chance da doença voltar é menor. Os riscos da doença retornar com essa cirurgia são menores quando comparado à cirurgia conservadora.
6- Por que a cirurgia da endometriose é muitas vezes complexa, complicada e demorada? Dependendo do grau de invasão e inflamação da endometriose, ocorre aderências graves e múltiplas entre os órgãos e tecidos do abdome dificultando a separação entre os implantes de endometriose e até mesmo a separação entre eles. Por exemplo, devido aderência entre o útero e o intestino é necessário retirar uma parte do intestino para remover a endometriose e a aderência causada pela mesma. O que exige muita experiência da equipe em cirurgia laparoscópica ou robótica, cirurgia pélvica e de endometriose, além de equipamentos e material cirúrgico de qualidade.
7- Quais os principais riscos e complicações da cirurgia de endometriose? O principais riscos são lesões de órgãos pélvicos durante o procedimento, como intestino, bexiga, ureter, vasos sanguíneos, nervos dentre outros. Mas os principal risco tardio é a recidiva (retorno da doença). Mesmo ressecando toda doença macroscópica (a olho nu) existe risco da endometriose retornar, principalmente se a cirurgia foi conservadora (preservando útero, ovários e trompas).